Políticas monetárias não convencionais - parte II

15-02-2014 16:51
As políticas de QE têm trazido, até à data, benefícios, mas, ao contribuírem para o aumento do preço dos ativos de forma artificial e sem correspondência com a economia real, criam e potenciam o aparecimento de bolhas especulativas nas mais diversas classes de ativos, nomeadamente ativos financeiros.
 
Efetivamente e em última análise, estes ativos representam um direito futuro sobre um fluxo financeiro gerado por um ativo económico. Quando o valor dos ativos financeiros se afasta do valor dos ativos económicos que os sustentam, assiste-se à criação de bolhas especulativas que alimentam a ilusão de aumento artificial da riqueza e cujo rebentamento terá consequências difíceis de prever e controlar. 
 
Há também outros fatores a ter em consideração nesta análise. A economia ainda está a digerir os níveis elevados de dívida das empresas, dos particulares e dos Estados soberanos cujo crescimento económico sustentou nas últimas décadas. 
 
Acresce que os mercados das várias classes de ativos, sejam eles ativos financeiros, matérias primas ou o mercado imobiliário, estão cada vez mais positivamente correlacionados por via dos produtos derivados e dos ETF - Exchange Trade Funds. 
 
Esta correlação transmite as ondas de choque resultantes da correção de uma bolha especulativa numa classe de ativos aos restantes mercados, reduzindo a eficácia das estratégias de diversificação de risco e ampliando os efeitos desta correção à escala global, também por via do elevado grau de alavancagem proporcionado pelo nível de endividamento. 
 
Por último, os mercados são dominados por algoritmos matemáticos que em frações de segundos colocam, retiram e executam ordens de compra e venda de ativos financeiros, transferem enormes volumes de capitais entre classes de ativos e geografias, e que há cada vez mais evidencia de que os mercados têm "uma vida própria", não controlável pelos humanos e cujo funcionamento imprevisível se acredita ser o responsável por rápidas, grandes e, até à data, inexplicáveis variações de alguns índices financeiros.
 
Todos estes fatores aumentam a volatilidade e contribuem parao aumento do risco sistémico no sistema financeiro.
 
A gestão pelos bancos centrais da sua política de QE e, principalmente, a forma e o momento em que comecem a reduzir a dimensão da sua intervenção em função da sustentabilidade do crescimento económico e da redução do desemprego, será fundamental para o equilíbrio do sistema financeiro e consolidação da recuperação económica. Este é um debate atual e é muito fina a linha que separa o sucesso do fracasso e das suas dramáticas consequências.
 
Bernardo Lisboa
 
Fórum de Reflexão Económica e Social
 
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