Produtividade e Eficiência Empresarial

04-09-2005 00:02

Ao reflectir sobre as questões relacionadas com a produtividade e eficiência empresarial, tenho sempre defendido a ideia de que, o que falta às empresas portuguesas, é o desenvolvimento de práticas de gestão numa óptica de marketing.

 
Significa isto que as empresas nacionais devem estar aptas a saber diagnosticar a situação macro e micro envolvente, identificar mercados alvo, segmentos de clientes e necessidades por satisfazer, planear, estabelecer objectivos, implementar estratégias ao nível do marketing mix, controlar resultados e analisar os desvios face aos objectivos. É aliás, ao nível da gestão estratégica e da capacidade de planear a médio e longo prazos, que encontramos algumas das principais debilidades das empresas e empresários nacionais. Isto porque os gestores e empresários portugueses têm revelado dificuldades em estabelecer objectivos claros, precisos, quantificáveis e realistas e definir as etapas para os atingir. Estas dificuldades resultam em parte da incapacidade, ou aversão, de quem é responsável pela gestão, em redigir planos de trabalho, quer sejam respeitantes a actividades de cariz estratégico, comercial, financeiro ou operacional. 
 
Um plano de marketing bem escrito e adequadamente fundamentado, seja ele de carácter estratégico ou operacional, sustentado em análises e considerações quantitativas e qualitativas estabelecidas segundo um método racional, constitui um instrumento de trabalho precioso, que obriga pelo menos a quem o escreve e a quem o lê, a reflectir sobre questões como: Onde se encontra a organização? Quais as características do seu meio envolvente? Para onde se pretende que esta caminhe?
Parecendo simples, este documento obriga a desenvolver um trabalho de pesquisa, investigação, estudo, análise e observação do mercado, dos clientes e dos concorrentes, o que por um lado, enriquece quem o executa, e que por outro irá beneficiar a organização se adequadamente utilizado.
 
No entanto surgem com frequência anticorpos à sua criação pelo facto de grande parte dos gestores e empresários nacionais terem aversão, expressando mesmo alguma incapacidade, em passar a escrito as suas ideias e projectos, por outras palavras, redigir um plano. Não nos devemos esquecer que «palavras leva-as o vento».
 
Por outro lado e quando existem, é também difícil por vezes pôr em prática estes planos, dado que, não raramente, estes ficam na gaveta pelo simples facto de que não lhes é atribuída a devida importância o que revela por si só uma forma de ignorância, pois não nos esqueçamos que planear significa trabalhar melhor, permitindo-nos ser mais produtivos e eficientes, e isto, aplica-se tanto no plano organizacional como no plano individual. 
 
Outras questões que afectam a produtividade e eficiência empresarial são aquelas relacionadas com os comportamentos e atitudes das pessoas dentro da organização. Assistimos muitas vezes por parte de alguns colaboradores, à adopção de atitudes que constituem verdadeiros obstáculos ao crescimento interno de uma filosofia e cultura empresarial que possa revestir-se de um espírito de vitória e de positivismo. Emana com frequência destas pessoas um espirito crítico destrutivo acerca de tudo o que as rodeia, resultando não raramente desta atitude, um comportamento de afrontamento contra as ideias de quem se apresenta num outro plano ao nível criativo e motivacional.  É também destas pessoas que surgem as maiores dificuldades ao nível comunicacional, as quais se mostram muitas vezes indisponíveis e avessas a dar respostas rápidas, claras, precisas e concisas às questões que lhes são colocadas. 
 
Sabemos também que a produtividade é afectada por hábitos errados de trabalho que teimam em persistir e que são apanágio de uma boa fatia do empresariado nacional, e que se consubstanciam por exemplo em múltiplas reuniões improdutivas, em conversas telefónicas longas e inconsequentes ou em longos almoços sem resultados práticos. Estou em crer que parte da resolução destes problemas passará pela adopção pelas pessoas de novos ritmos e de novas metodologias de trabalho.
 
Termino esta reflexão sublinhando ainda que uma forte cultura empresarial é, em meu entender, um requisito essencial para uma boa produtividade. Toda a organização deve estar dotada de uma cultura empresarial forte, o que significa que os seus colaboradores partilham de certos princípios, valores, atitudes e comportamentos em relação ao trabalho, desenvolvendo estes numa direcção comum em prol da organização em geral e de cada um deles em particular. E isto significa que a energia de todos é orientada para os mesmos objectivos, significa ainda partilhar experiências e transmitir conhecimentos e a filosofia interna aos novos que ainda não estão aculturados, de modo a contribuir para o aumento da sua motivação, com o objectivo de que estes se sintam como um elemento importante e decisivo para o projecto.
 
Para estarem à altura dos novos desafios, actuais e futuros, num mundo onde a inovação é contínua, as empresas portuguesas estão obrigadas a atender à importância da cultura empresarial nos termos em que a defini.
 
 
Mário de Jesus
 
FRES – Fórum de Reflexão Económica e Social
 
Publicado:
 
Jornal de Negócios, 4 agosto 2005