Por uma plataforma ibérica II - Mário de Jesus (OJE, 12 jun. 2012)

23-06-2012 13:03

Espanha sempre foi, é e será, um parceiro incontornável no futuro da economia portuguesa. Pela força e representatividade das trocas comerciais, pela cooperação política, pela posição geográfica, pela proximidade e pelo que já foi construído ao longo de décadas fruto das relações políticas e económicas. 

 
Portugal continua a ser o parceiro mais pobre, porém, a posição do País pode e deve ser elevada ao seu real grau de importância. Porque Espanha atravessa uma crise profunda cujo impacto no mercado laboral é ainda mais profundo que em Portugal. Porque Espanha revela dificuldades em termos económicos e orçamentais num quadro de recessão económica. Porque integrados numa plataforma ibérica, os dois países podem falar mais alto, mais forte e ir mais longe na defesa dos seus interesses. Não em rotura com a Europa, mas solicitando aos decisores europeus as soluções e medidas mais adequadas aos seus problemas. A ideia não é fácil de digerir. Existe o perigo de a Espanha não querer colar-se a um Portugal intervencionado. Mas seria uma via de saída para a própria Espanha não vir a ser intervencionada, o que se afigura cada vez mais difícil. 
 
É certo que Espanha é um país divido por 13 autonomias regionais que pensam e atuam diferente;  que se culpabilizam entre si ou que não assumem de forma cooperante as responsabilidades pela situação económica do país. E essas autonomias criam obstáculos e dificuldades a uma maior e melhor integração económica com Portugal.
 
Ainda assim, atentos aos problemas comuns vividos nesta plataforma ibérica, até que ponto seria desejável que Portugal e Espanha se apresentassem à União Europeia e a Bruxelas com um sentido de união e como bloco económico de modo a renegociar para a plataforma ibérica condições específicas, metas ou outro calendário para cumprir os seus objetivos em termos de política orçamental? Não ganhariam outra força negocial com Bruxelas? Não teriam outro peso no contexto europeu? 
 
A ideia não seria a rotura com a Europa nem com os princípios da União Europeia, como já foi dito. A Europa, os países ibéricos e o mundo, vivem uma situação quase única - uma espécie de crise exclusiva. Já se percebeu que até aqui a Europa não tem tido os instrumentos necessários e adequados para debelar os problemas.
 
Naturalmente que teria de haver lugar à contemplação das diferenças que separam Portugal e Espanha e às especificidades e problemas intrínsecos de cada país. O repto lançado é desafiar ambos os Governos a analisar e a avaliar este posicionamento. É que, dado o encaixe geográfico, as fortes relações e integração comercial, os problemas orçamentais e a recessão vivida em ambos os países, não seria mais fácil negociar para a plataforma ibérica um pacote que se ajustasse ao bloco em si, que por sua vez permitisse os devidos ajustamentos a cada país? Talvez valha a pena pensar nisto. 
 
Mário de Jesus
 
Fórum de Reflexão Económica e Social (FRES)
 
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