Políticas monetárias não convencionais - parte I

15-02-2014 16:48
Desde o início da atual crise financeira, em 2008, que os bancos centrais aplicaram rapidamente as políticas monetárias que têm à sua disposição para reduzirem o impacto negativo dos efeitos da crise nas economias e na vida dos cidadãos, defendendo, desta forma, o crescimento e o emprego.
 
 
A política convencional de redução sistemática da taxa de juro para níveis nominais próximos de 0% esgotou-se rapidamente e levou à utilização de políticas menos ortodoxas e praticamente não testadas até então, como as taxas de juro negativas, as alterações do nível objetivo de taxa de inflação e a política de Quantitative Easing (QE).
 
Relativamente à política de QE, esta traduz-se na criação de moeda através do lançamento de programas para a aquisição de ativos financeiros a investidores e entidades financeiras por parte dos Bancos Centrais - Federal Reserve Bank (Fed), Bank of England (BoE) e Banco Central Europeu (BCE). A título de exemplo, nos EUA, o programa atual em vigor compreende a injeção mensal de 85 mil milhões de dólares no sistema financeiro. 
 
É expectável que a total compreensão dos impactos da política de QE só se consiga aferir daqui a vários anos, tanto mais que a total compreensão dos impactos da política monetária implementada durante a grande depressão só ocorreu nos anos 50 do século passado, ou seja, mais de 20 anos volvidos sobre o início da grande depressão.
 
Há, no entanto, evidência que a utilização das políticas monetárias não convencionais, nomeadamente a QE, têm permitido diminuir o impacto da crise financeira no crescimento do produto interno bruto e no não aumento ou mesmo decréscimo do desemprego. A liquidez resultante dos programas de QE é utilizada pelos investidores para comprar ativos financeiros que aumentam de valor devido ao acréscimo da procura. 
 
O aumento do seu preço reduz o seu "yield" e baixa o custo do financiamento na economia, com o consequente estímulo ao investimento. O aumento do valor dos ativos financeiros, para o qual contribui também o reinvestimento dos rendimentos por eles gerados, tem impacto no consumo por efeito da perceção de aumento da riqueza e sustenta o ciclo de crescimento contínuo dos preços.
 
As exportações dos países que aplicam as políticas de QE também beneficiam do efeito da mesma, por via da desvalorização cambial, desde que a liquidez seja utilizada na aquisição de ativos de não residentes, normalmente localizados em economias emergentes onde a rentabilidade dos ativos é superior em termos relativos. 
 
A procura de ativos financeiros ou  imobiliários não residentes implica que a sua aquisição seja efetuada em moeda local, que é adquirida através da venda, por exemplo, de dólares americanos ou euros. A maior oferta destas moedas tende a desvalorizá-las, beneficiando as exportações destes países e regiões. 
 
Note-se que o movimento de entradas de capitais nas economias emergentes, quando revertido, tem impactos negativos significativos nestas economias e determina a necessidade de impor restrições à livre circulação de capitais.
 
Bernardo Lisboa
 
Fórum de Reflexão Económica e Social (FRES)
 
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